A história de Cametá começa bem antes dos livros, sua saga contém grande riquezas a serem descobertas e recontadas, as comunidades judaicas no rio Tocantins nos seus mais variados aspectos chegam com os cristãos novos no século XVII na região, "cristãos novos" eram o apelido dado aos imigrantes da península ibérica, judeus que se converteram ao cristianismo católico forçadamente, milhares vieram na primeira imigração para a região amazônica e Tocantina.
Os Aspectos econômicos e sociais, junto a relatos de memórias, da inserção das comunidades judaicas na realidade amazônica são de grande valia, não só para a história destas comunidades, como também, para ajudar a construir uma nova história em Cametá e na Amazônia como um todo. Quase sempre quando pesquisadores referem-se à Amazônia são ressaltados os povos da florestas, ribeirinhos, mas quase nuca são citados os grupos judaicos que encontram-se radicados a séculos na região norte, demarcando de uma forma ou de outra seu território identitário, ainda ressaltando que, dois séculos de imigração é algo muito significativo para um país que tem apenas quinhentos anos.
Cametá foi uma das primeiras cidades da Amazônia a receber judeus, antes mesmo do ciclo da borracha já se podia notar a presença judaica de várias formas na cidade.
Inicialmente jovens solteiros que viriam ser regatão e administradores de barracões de coletas de produtos da floresta, depois famílias judaicas que paulatinamente chegaram na cidade, muitas fugindo dos surtos de febre amarela que eram muito comuns na capital. Um dos principais produtos da exportação cametaense era o cacau, que logo foi ultrapassado pelas produções bahianas e inglesas nas colônias do Caribe.
Embora hoje a cidade apresente-se decadente economicamente, Cametá oferecia um modelo de cidade emergente para a época, com coretos importados da França e iluminação pública que adornavam a praça da matriz já no ano de 1906. Os judeus logo integraram-se à elite local, que era formada por portugueses, espanhóis, franceses e libaneses, que ocupavam as primeiras ruas da cidade com seus comércios e residências.
Após a crise da borracha, na primeira década do século vinte, as inúmeras famílias judias que viviam nas cidades e vilas ao longo dos principais rios da Amazônia, como a família Cohen ficaram e outras paulatinamente começam a imigrar para as capitais Belém e Manaus. Muitas destas famílias prosperaram após anos comercializando produtos regionais, como fazia a maioria da elite constituída na época. Mas, com o esgotamento destes recursos e a desvalorização dos mesmos no mercado internacional, o interior da Amazônia tornou-se um lugar vazio de oportunidades, impulsionando desta forma os judeus que residiam no interior a engrossarem as comunidades já constituídas nas capitais.
Mesmo os judeus com menos recursos, também deixaram as cidades interioranas, e na maioria das vezes valendo-se das redes de ajuda mútua, sempre existentes dentre os judeus ao longo de anos de diáspora, procuravam se estabelecer nas capitais para iniciar um novo passo na história da imigração judaica na Amazônia.
No início dos anos cinqüenta do século passado, as comunidades interioranas estavam totalmente esvaziadas, as gerações que se constituiriam na capital já não teriam uma característica comercial extrativista, a maioria dos componente das gerações nascidas ou imigrada para as capitais enveredou por outro tipo de comércio ou tornaram-se profissionais liberais. Com Cametá não foi diferente, mais de um século de inserção judaica foi deixado para trás em prol de um novo modelo de vida na capital, mas mesmo atualmente não havendo judeus na cidade, se faz importante a realização destes estudos.
Cametá além de Belém foi a única cidade do Pará que teve uma sinagoga pública.
Texto adaptado Prof. Pedro Chaves
Fontes: Wagner Bentes Lins - Antropólogo (USP)