O
personagem no topo desta página, com ar de Che Guevara playboy, se
chama Taiguara Rodrigues dos Santos. É figura conhecida na rede de
negócios de empresas brasileiras em Cuba, na África e na Europa. Até
2009, ele ganhava a vida em Santos, no litoral de São Paulo, onde se
estabelecera como pequeno empresário, dono de 50% de uma firma
especializada em fechar varandas de apartamentos. Taiguara tinha uma
rotina compatível com seus rendimentos. Seu apartamento era um quarto e
sala. Na garagem, um carro velho. A partir de 2009 a vida dele começou a
mudar para melhor - muito melhor. De pequeno empresário do ramo de
fechamento de varandas, ele se reinventou como desbravador de fronteiras
de negócios no exterior. Abriu duas empresas de engenharia e, em
questão de meses, fechou negócios em Angola. O primeiro contrato no país
africano destinava-se a construir casas pré-moldadas e tinha o valor de
1 milhão de dólares, conforme registro no Ministério das Relações
Exteriores. No segundo, de 750 000 dólares, comprometia-se a construir
uma casa de alto padrão. Até aqui o que se tem é um empreendedor
ambicioso que vislumbrou oportunidades de mudar de patamar vendendo seus
serviços em países com os quais o governo Lula estabelecera inéditos
laços de cooperação comercial. Mas a história de Taiguara é, digamos,
bem mais complexa.
Conta o advogado Rafael Campos, representante da proprietária de um
imóvel alugado por Taiguara: "Ele me falou que estava indo para a África
no vácuo das grandes empreiteiras que expandiam negócios por aquele
continente". A vida além-mar, pelo jeito, ofereceu a Taiguara grandes
dificuldades práticas. Tendo recebido o dinheiro, as obras não saíram.
Seus clientes angolanos acionaram a Justiça brasileira em busca de
reparação, o que combinou com um inferno astral em que ele teve dezenove
títulos protestados e passou 25 cheques sem fundos. Se 2009 foi de
esperança, os anos seguintes, 2010 e 2011, foram de amargura com o
fracasso na África, e Taiguara teve o desgosto adicional de ver seu nome
no Serviço de Proteção ao Crédito. Mas...
...a maré mudou, e mais tarde Taiguara reemergiu em glória. Havia
comprado uma cobertura dúplex de 255 metros quadrados em Santos, dirigia
um Land Rover Discovery de 200 000 reais e tomou gosto por viagens
pelas capitais do mundo, hospedando-se sempre em hotéis de alto luxo.
VEJA perguntou a Taiguara como ele explica a reviravolta em sua vida
empresarial. Não obteve resposta.
Taiguara é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, o Lambari, amigo de
Lula na juventude e irmão da primeira mulher do ex-presidente.
Funcionários do governo e executivos de empreiteiras costumam
identificá-lo como "o sobrinho do Lula". Em 2012, uma de suas empresas
de engenharia, a Exergia Brasil, foi contratada pela Odebrecht para
trabalhar na obra de ampliação e modernização da hidrelétrica de
Cambambe, em Angola. O acerto entre as partes foi formalizado no mesmo
ano em que a Odebrecht conseguiu no Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) um financiamento para realizar esse projeto
na África. Uma coincidência, certamente. Orgulhoso, Taiguara postou
fotos das obras na hidrelétrica de Cambambe numa rede social. "E tome
água! Vamos gerar energia!", escreveu. A Odebrecht não quis informar o
valor do contrato com a Exergia Brasil, que vigorou em 2012 e 2013. Em
nota, disse que segue "padrões rigorosos de contratação de fornecedores,
levando em conta sua capacidade técnica, financeira e de execução".
Fonte: Revista Veja.
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